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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

LEON TOLSTOI - A Tortura da Carne

Eugénio Irtenieff tinha razões para aspirar a uma carreira brilhante. Para tal nada lhe faltava, a sua educação fora muito cuidada; terminara com brilho os estudos na Faculdade de Direito de S. Petersburgo e, por intermédio do pai, falecido havia pouco, conseguira as melhores relações na alta sociedade. Basta dizer-se que entrara para o Ministério pela mão do próprio Ministro. Possuía também uma avultada fortuna, embora esta já estivesse comprometida. O pai vivera no estrangeiro e em S. Petersburgo e dava a cada um dos seus filhos, Eugénio e André, uma pensão anual de seis mil rublos, e ele e a mulher de nada se privavam, gastavam à larga. No verão, passava dois meses no campo, mas não administrava directamente as suas propriedades, confiando tal encargo a um encarregado que por sua vez, embora este fosse pessoa da sua inteira confiança, deixava andar tudo ao Deus dará.

Por morte do pai, quando os dois irmãos resolveram liquidar a herança, apareceram tantas dívidas que o advogado aconselhou-os a ficarem apenas com uma propriedade da avó, que fora avaliada em cem mil rublos, e desistirem do restante. Mas um vizinho da herdade, igualmente proprietário, que tivera negócios com o velho Irtenieff, veio a S. Petersburgo propositadamente para apresentar uma letra aceite por este - e fez-lhes saber que, apesar das grandes dívidas, poderiam chegar a acordo com ele e ainda refariam grande parte da fortuna. Para tal, bastava que vendessem a madeira, alguns bocados de terreno bravio e conservassem o melhor, isto é, a propriedade de Semionovskoié, uma verdadeira mina de oiro, com as suas quatro mil geiras de terra, duzentas das quais de belos pastos, e a refinaria. Afirmou ainda que, para tal se arranjar, era indispensável que uma pessoa enérgica se entregasse de corpo e alma a essa tarefa instalando-se no campo para administrar a herdade inteligente e economizante.

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